Em tempos de recessão econômica, mulheres compram mais artigosde beleza do que bens duráveis
Rio - Crises financeiras são as épocas mais lucrativas para a indústria de beleza. O fenômeno, conhecido como “Índice Batom”, foi percebido por Leonard Lauder, presidente da tradicional marca de cosméticos norte-americana Estée Lauder, após notar aumento nas vendas em 2001, com os Estados Unidos devastados pela queda das Torres Gêmeas e com baixa atividade econômica. No Brasil, a percepção também faz sentido. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal e Perfumaria (Abihpec), no ano de 2010, quando a economia do país cresceu 7,5%, o setor faturou R$ 29,9 bilhões. Já com a previsão para crescimento do PIB de 2014 em 0,15%, a expectativa de ganhos no segmento é de R$ 42,6 bilhões. Ou seja, 42% a mais.
“Nos últimos anos, o brasileiro passou a gastar mais com bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis. Ocorre que estamos em um ano particularmente difícil, porque o crédito está muito caro. O consumidor olha para o valor da prestação e vê que não vai caber no orçamento”, avalia.
Assim, o “Índice Batom” pode se tornar realidade. A cabeleireira Rosane Maria Pereira da Silva, 41 anos, por exemplo, evita comprar roupas, principalmente se tiver que parcelar, mas não abre mão da maquiagem. “Sempre uso batom, lápis. Tenho que me cuidar”, brinca.
Já a gerente de TI Renata Andrade, 37, diz que cosmético é questão de necessidade. “Bolsa e sapato são supérfluos, mas não dá para ficar sem lavar o cabelo, sem fazer a unha. Rímel também é fundamental para tirar a cara de sono no trabalho”, conta.
Homens são o novo público alvo do setor de beleza
Em busca de novos mercados, o segmento de cosméticos começou a investir no aumento de renda da classe C. Assim, conseguiu ganhar novos consumidores. Agora, segundo o economista Fabio Bentes, é a vez dos homens serem fisgados pelo setor.
Em busca de novos mercados, o segmento de cosméticos começou a investir no aumento de renda da classe C. Assim, conseguiu ganhar novos consumidores. Agora, segundo o economista Fabio Bentes, é a vez dos homens serem fisgados pelo setor.
“Esgotou-se a capacidade que a classe C tinha de consumir mais e é natural que o mercado busque novos compradores. O potencial de consumo agora é o público masculino, que está adquirindo cada vez mais cosméticos”, avalia o especialista.
Para Daniel Silveira, diretor regional da Natura, os produtos voltados para os homens ganham destaque na marca. “Eles estão cada vez mais vaidosos, temos pesquisas que indicam isso e os produtos têm ganhado espaço dentro do mix da empresa”, explica.
O foco, porém, continua sendo as mulheres. Rosana Marques, diretora de Comunicação da Avon Brasil, afirma que o ano passado foi interessante para a gigante norte-americana. “Se a mulher está desempregada, compra um esmalte e faz a unha em casa. Elas deixam de financiar carro novo, eletrodoméstico, porque já estão endividadas, mas aderem às pequenas indulgências”, diz.
No Brasil, boa parte do consumo de produtos de beleza é feita por meio de revendedoras. Segundo Roberta Kuruzu, diretora-executiva da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd), mesmo com as dificuldades de 2014 houve crescimento no setor.
“O ano foi difícil, a gente vê que o momento é de crise, mas não dá para negar que as pessoas deixam de comprar bens duráveis e compram cosméticos. Grandes empresas vieram para o Brasil e o setor tem se fortalecido”, conclui.
Reportagem de Maíra Teixeira, do IG, e Stephanie Tondo, do Dia
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